Por que aprendemos? Por que educamos? Qual o propósito de educar e de aprender? Proponho uma reflexão sobre esses processos, questionando seus propósitos. *Por Júlio Ribeiro

A partir de 2020, devido aos momentos difíceis e complexos que o mundo e em especial a sociedade brasileira vem passando, uma questão não sai da minha mente: “Em que vale a pena dedicar o nosso tempo de vida?”. Mesmo que essa pergunta já me acompanhe desde a adolescência, e sempre recorro a ela para tomar decisões importantes pessoais e profissionais, nos últimos meses esse pensamento, em relação ao propósito do que fazemos, está ainda mais forte. 

Quero compartilhar algumas dessas reflexões e experiências com vocês, tomando a liberdade de já nos chamarmos de aprendedores e ensinadores. Aprendedores porque continuamente, na nossa vida, aprendemos algo. Aprendemos de maneira inconsciente, quando o nosso cérebro e nossos instintos detectam sinais de perigo e precisamos reagir. Ver alguém fazendo algo, observar a natureza, seguir um comportamento de manada, tudo isso pode nos ensinar. Mas qual o propósito disso? Seria sobreviver? Reproduzir? Proteção? Existem muitas áreas do conhecimento que se dedicam a aprofundar esses estudos e entender ao longo da evolução humana, como e porque aprendemos. 

Minha indagação a vocês, aprendedores, é no sentido de entender os “ensinadores”. Por que alguém ensina? Não só de maneira inconsciente, quando alguém está ensinando sem nem perceber que está fazendo. Como por exemplo, a conduta de uma mãe ou pai com os filhos. Nossos filhos nos observam diariamente e acabam aprendendo a fazer através de exemplos.  

Sendo assim, quero discutir o porquê alguém se dedica a educar, seja na sua formação, nas escolhas racionais, sociais e emocionais.  

Quando penso no momento que vivemos enquanto sociedade e no propósito do educar, sempre me lembro de uma frase da minha professora do ensino fundamental: “as escolas e o ensino servem para uma geração passar para a próxima os erros e acertos que a humanidade conseguiu ter até esse momento”. Vocês podem concordar, discordar e completar essa frase, mas nada muda o impacto que ela causou na minha mente aos 14 anos. Ali, já tinha a certeza de que poderia ser um monte de coisas, mas em todas essas possibilidades não deixaria de ser um educador. Pois, o propósito é muito forte, educar para que as próximas gerações, e se possível a nossa mesma, possa viver melhor. Sempre entendi esse pensamento como um legado que uma geração deixa para a outra. 

Mas será que seria possível trazer esse pensamento para as empresas? Ter essa postura para o ambiente corporativo? Será que os governos e a administração pública poderiam também pensar e agir assim? Então, essa agora é a nossa causa, esse agora é o nosso sonho para gerações futuras: que além das instituições família, escola e igrejas, que as empresas e governos também entendam a importância de educarem. 

E ao falarmos de educar como uma causa das organizações, sejam elas empresas privadas ou esferas de governos, podemos abordar vários aspectos, dos mais técnicos (Hardskills) até os comportamentais (softskills). Qual poderia ser o impacto na sociedade se as empresas de tecnologia de ponta assumissem o compromisso de preparar um elo com a geração atual e a próxima geração de programadores, engenheiros, analistas etc? 

Atualmente, não conheço empresa de tecnologia (e mesmo de outros setores) que não reclamam da dificuldade de encontrar profissionais qualificados. Contudo, o pensamento imediatista e altamente competitivo/predatório não consegue enxergar que as empresas poderiam semear, regar, adubar e colher safras de ótimos profissionais, mas o ciclo de colheita na educação é de anos, e não de semanas. Como não há uma causa educacional, as empresas preferem “roubar/atrair” os bons profissionais de outras empresas. Assim, todos se prejudicam a longo prazo, pois os salários aumentam (como atrativos para migrar de uma boa empresa para outra também muito boa). Aquela empresa que perdeu um ótimo colaborador precisa repor a posição o mais rápido possível, por isso repete o processo e vai “retirar” alguém de outra organização e a roda gira.  

No médio e longo prazo, não existe uma real política educacional de sucessão de talentos. Ocorre um fosso entre aqueles poucos muito bons, e uma grande massa de pessoas que não conseguem ser bons o suficiente para as demandas daquele momento imediato das empresas. 

Não precisamos ficar só no contexto tecnológico e/ou Hardskills, pois a parte emocional, social e ética também estão frágeis. Muitas empresas reforçam as ações de compliance, de gestão humanizada etc, mas se pararmos para pensar, será que é um “memorando de entendimento” e um “documento normativo” que irá fazer uma cultura ética prevalecer nas organizações? Como é hoje a ação das lideranças nas organizações? O que é feito nos processos de seleção e onbording? Será que as organizações poderiam priorizar a educação de valores? Como as lideranças executivas de alto nível, e mesmo as lideranças intermediárias, lidam com situações de pressão, competitividade agressiva e comprimento de metas insanas? E como pode/deve ser ensinado pelos líderes os exemplos de boa conduta? Voltamos a perceber que existem lacunas nessa posição nas organizações, e mais uma vez é preciso ter o propósito de EDUCAR COMO UMA CAUSA 

Acredito que as organizações públicas e privadas podem contribuir mais com toda a sociedade ao se posicionarem como educadoras. Essas organizações podem ensinar a partir, e através, das suas áreas de atuação, como por exemplo desenvolver um programa de responsabilidade social corporativa ao educar jovens nas tecnologias que são tendências (isso irá fazer bem aos jovens, a empresa e a toda sociedade). As organizações também poderiam assumir um compromisso em dar voz e vez aos exemplos de comportamentos positivos dentro da organização para aqueles de fora da organização. Assim, ajudam a formar seus futuros líderes inspiradores, mesmo que esses ainda não estejam dentro das empresas. 

Concluindo com a adaptação e ampliação no pensamento da minha professora do ensino fundamental: É preciso que em toda sociedade, seja nas instituições de ensino, nas empresas ou governos, tenhamos o compromisso de trocar com a próxima geração os erros e acertos que a humanidade conseguiu ter até esse momento, e desenvolver a cultura de educar como estratégia de sobrevivência coletiva.  

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